Crianças que fazem parte do projeto Cantinho da Alegria, de Itapema, vivenciaram um dia bem diferente nesta semana: muitas delas receberam pela primeira vez um atendimento odontológico. A iniciativa faz parte do projeto de extensão “Missão Sorrir” do Curso de Odontologia da Faculdade Avantis, que acaba de lançar sua segunda edição com uma nova roupagem: terá apoio de outros cursos da instituição.
Onze crianças conheceram os acadêmicos que irão atendê-las até o fim do ano e foi um momento de bastante alegria. “Pode parecer algo bobo, mas muitos deles nunca foram ao dentista, nunca fizeram um passeio de ônibus, estavam muito ansiosos”, conta. Leidaiana Borges Müller, 29 anos, fundadora do Cantinho da Alegria.
A coordenadora do “Missão Sorrir”, professora Karen Corrêa, lembra que o foco do projeto é atender pacientes em situações de vulnerabilidade social e também uma oportunidade para os acadêmicos ampliarem os conhecimentos aprendidos em sala de aula. Para as crianças, serão realizados atendimentos que ensinam desde a iniciação com a higiene bucal, até demais tratamentos necessários.
Quem iniciou o projeto foram as acadêmicas da faculdade, Lorrany Marques Magro e Mariana Sottili da Fontoura, que ressaltam o sucesso da primeira edição. “Com os alunos da APAE foi muito gratificante fazer o atendimento, pois vimos que eles nunca tiveram acesso a um dentista, nunca haviam estado em um consultório, falavam que era igual de novela. Tem sido uma experiência muito gratificante”, conta Lorrany, ainda mais entusiasmada com a nova edição.
Heroína da vida real
O entusiasmo de Lorrany e do restante da turma é facilmente compreendido quando se conhece um pouco da história de Leidaiana, fundadora do Cantinho da Alegria. Ela é daquelas pessoas que nascem predestinadas a fazer o bem: aos 5 anos dava o seu lanche para os moradores de rua, aos 12 passou a cuidar de crianças, aos 16 tornou-se mãe e conta que desde sempre teve consigo o desejo de ter um orfanato, até que aos 17 anos resolveu fundar uma casa para abrigá-las. Esse espaço passou por diversas formatações, funcionou na Argentina, atendeu crianças e imigrantes. Em 2014, ela mudou-se para Itapema e aqui também sentiu a necessidade de ter um lar para acolher crianças. “Vi muitas crianças, principalmente filhas de carroceiros em situação de vulnerabilidade, se prostituindo, sendo utilizadas para pedir dinheiro, usando drogas, enfim, em situações inadequadas. O que eu faço é ir conversar com os pais, peço para fazer um acordo, enquanto eles estão nas ruas, as crianças ficam no projeto. Lá eles ganham todos os cuidados que são dados aos meus quatro filhos”, explica, ao comentar que hoje são atendidas 45 crianças.
O projeto funciona na casa de Leidaiana e é mantido com doações. A família atua como voluntária e ela destaca que nestes 18 anos já passou por muitas dificuldades, mas em nenhum momento esmoreceu. “Já houve momentos em que foi preciso misturar leite com água. Mas isso é a minha vida, é tudo que sei fazer. Sei que é uma causa nobre. Mas cada sorriso, cada abraço faz tudo valer muito a pena”.