A planta Vernonia Scorpioides, conhecida popularmente como erva-de-são-simão ou piracá, é vista frequentemente nas praias da região do litoral do Brasil, incluindo as de Santa Catarina. O que poucos sabem é que essa planta tão comum poderá fazer uma grande diferença no tratamento do câncer. A pesquisadora P.H.D Maria Regina Orofino Kreuger, coordenadora do curso de Enfermagem da Faculdade Avantis, está estudando os compostos orgânicos desta planta, que já demonstrou ser eficaz contra as células tumorais, além de ter efeitos anti-inflamatórios e combater bactérias e fungos. Regina irá apresentar algumas de suas recentes descobertas no International Conference on Pharmacology and Regulatory Affairs, na Austrália, entre os dias 12 e 14 desse mês.
Regina ficou sabendo sobre a planta em 2001, através de uma colega que relatou casos de uso de um extrato da planta com álcool, que auxiliava na cicatrização de úlceras de pernas. “Essa minha amiga, que é formada em Farmácia e especialista em isolamento de compostos químicos, pediu a minha ajuda para entender porque isso acontecia. A partir disso, fracionamos as folhas e as flores da planta diversas vezes, fazendo vários testes, incluindo em camundongos, até identificar o princípio ativo, uma lactona sesquiterpênica. No tratamento de camundongos o câncer desapareceu”, diz. O trabalho também conta com colaboração da professora Dra. Luise Carrenho, que começou a estudar o tema quando era orientanda de Regina na graduação em Farmácia.
A professora explica que o processo é lento e que cada teste leva aproximadamente seis meses até ser finalizado. “Ainda precisamos fazer muitos experimentos para saber se a molécula isolada pode ser sintetizada para ficar disponível até ser feito testes em seres humanos”, acrescenta. A professora passou por laboratórios da Suécia e também da Bélgica e chamou a atenção de outros pesquisadores. Além dela, aproximadamente outros 100 pesquisadores estudam a mesma molécula, provenientes de outras plantas da mesma família.
A lactona sesquiterpênica desta planta é Diacetilpiptocarfol, chamada de DPC. É ela que está dando o resultado e trabalhando direto na célula tumoral, não atingindo as células saudáveis. “Ela vai direto ao ponto pois desativa genes importantes no processo tumoral. Eu estou estudando a DPC, mas há pesquisadores que estão estudando outras, que também estão dando resultados semelhantes, mostrando o quanto esta molécula é importante. Inclusive, a lactona sesquiterpênica Parthenolide já está em teste em humanos com câncer e a pesquisadora chinesa YouYou Tu, que isolou a lactona sesquiterpênica Artemisinina, recebeu o prêmio Nobel de Medicina em 2015, por descobrir a eficácia da molécula contra a malária”, ressalta.
Segundo Regina é preciso ressaltar que os resultados obtidos até agora foram em camundongos e em células de tumor maligno de humanos in vitro. Muitos testes ainda terão que ser realizados para saber se é possível desenvolver a molécula em laboratório, já que não seria possível ter planta suficiente para o número de pacientes em tratamento de câncer. “Ainda há muito a ser feito, mas já estamos bem otimistas. Já sabemos que ela tem efeitos contra tumor, inflamações, bactérias e fungos”, afirma. Com a apresentação no Congresso na Austrália, a expectativa é apresentar para empresas farmacêuticas que, se interessadas, poderão ajudar a financiar a pesquisa. “Não temos como dizer que é a cura para o câncer, porque é difícil curar totalmente a doença, mas certamente a tendência é que essa nossa pesquisa ajude pacientes a conviverem melhor com essa condição, auxiliando bastante no tratamento e na qualidade de vida destas pessoas”, finaliza.
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